Com cerca de 0,5% do consumo, o mercado livre representa 36% de toda a energia usada no país: ou seja, são as mesmas empresas que garantiram os recursos do empréstimo compulsório sobre energia elétrica
Em 2023, o Mercado Livre de Energia teve um aumento de 23% no número de unidades consumidoras que integram esse ambiente, de acordo com o balanço da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel).
No total, foram mais de 7 mil negócios que passaram a fazer parte do ambiente de contratação livre. Apesar de registrar apenas cerca de 0,5% das unidades do país, este grupo representa 36% de toda a energia consumida.
Isso se deve ao fato de abarcar os chamados grandes consumidores. Um grupo em especial foi um dos grandes incentivadores do mercado livre de energia ao longo dos anos: a indústria.
Atualmente, 9 a cada dez fábricas adquirem energia do ambiente livre. Vale lembrar que este perfil de negócio foi o mais impactado com o empréstimo compulsório sobre energia elétrica, especialmente o segundo momento, que focou no consumo superior a 2 mil kW por mês.
Ao contrário do mercado tradicional, o mercado livre de energia permite às indústrias negociarem condições de contratação: custos, regras específicas de tensão e horários, tipo de geração, entre outros. Dessa forma, os grandes consumidores não ficam reféns das bandeiras tarifárias de energia, além de garantirem um abastecimento com suas próprias regras.
Quem pode integrar o mercado livre?
Desde 1º de janeiro de 2024, os consumidores de média e alta tensão com demanda contratada inferior a 500 kW podem migrar para o mercado livre de energia.
Ao longo dos últimos anos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vem reduzindo as exigências para as empresas, garantindo às empresas e às fábricas de menor porte colherem as vantagens deste modelo de contratação.
Além disso, a Aneel também modificou as regras para ingressar neste sistema, diminuindo o tempo de espera para a migração e a simplificação dos processos. Não é preciso ser uma indústria para ingressar neste grupo: condomínios, grandes empresas, lojas, shoppings, entre outros, podem também negociar suas condições de fornecimento energético.
Mas, afinal de contas, por que a indústria abraçou o mercado livre de energia?
– Custo
O primeiro fator é, indiscutivelmente, o custo.
No ano passado, a economia obtida foi de R$ 48 bilhões, conforme a Abraceel. Há casos de o custo energético de uma fábrica cair até 57% em relação ao mercado cativo – o fornecimento tradicional realizado pelas distribuidoras aos consumidores residenciais.
Além disso, o custo dos contratos costuma ser fixo, aumentando a previsibilidade para o negócio.
– Competitividade
Para determinados setores da indústria, a energia elétrica é o principal ou um dos mais relevantes insumos. Reduzir o seu custo é sinônimo de mais competitividade, especialmente com a possibilidade de explorar diversas opções, com mais controle sobre seus gastos com energia.
Na outra ponta, os próprios fornecedores de energia do mercado livre competem entre si, oferecendo opções mais atrativas para os seus clientes.
– Flexibilidade
No mercado tradicional, as empresas estão vinculadas a contratos de longo prazo com fornecedores de energia sem opção de personalização. No mercado livre, as empresas têm a capacidade de negociar contratos que atendam às suas necessidades específicas em termos de volume, preço e fonte de energia.
Essa flexibilidade permite que as empresas adaptem suas estratégias de compra de energia de acordo com as flutuações do mercado e as mudanças nas suas operações.
– Sustentabilidade e transição energética
À medida que a preocupação com a sustentabilidade ambiental cresce globalmente, com a difusão do ESG, as empresas estão cada vez mais conscientes do impacto de suas operações no meio ambiente.
Nesse quesito, escolher fontes renováveis para o abastecimento energético é uma maneira de mitigar os impactos ambientais, reduzindo as emissões de carbono e promovendo uma economia mais sustentável.
– Ganhos reputacionais
Os cuidados com ESG e a responsabilidade ambiental são bem-vistos pelos consumidores. Além da possibilidade de reduzir custos, as empresas podem melhorar sua reputação e valorizar a responsabilidade corporativa.
Espera-se que, nos próximos anos, a Aneel diminua ainda mais as exigências para a entrada de empresas no mercado livre de energia, dando mais flexibilidade e liberdade para os consumidores.
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